Fábio Dias
13/12/2013
Garça 

José Bonfim: dois anos de sobriedade com apoio do Caps-AD

O Caps-AD (Centro de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas) completou

  O Caps-AD (Centro de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas) completou, em agosto passado, dois anos de existência em Garça. Ao longo desse período, centenas de pessoas que sofrem com o vício tiveram a oportunidade de buscar a recuperação e de voltar a ter uma vida normal e produtiva. São histórias de superação, de pessoas que lutaram contra a dependência e que, com um auxílio de profissionais de várias áreas que atuam no Centro, puderam superar as fortes barreiras impostas pelas drogas e pelo alcoolismo.

Um bom exemplo disso é José Silva Bonfim. Aos 47 anos de idade, ele passou os dois últimos anos sóbrio. Em agosto de 2011, ele procurou o Caps-AD de Garça e se encontrava em um momento extremamente delicado de sua vida. O dinheiro havia acabado e seus dias e noites estavam voltados para o álcool. De bar em bar, já não tinha mais uma ocupação definida e o futuro se tornava cada vez menos promissor.

Bonfim é garcense e foi para São Paulo ainda jovem. Na capital trabalhou em vários segmentos. Chegou a ser maitrê, atuou muitos anos na noite, principalmente como músico. Segundo ele, apesar das dificuldades de se trabalhar madrugada adentro, o retorno financeiro era favorável. Nessa época, a bebida era algo comum para ele, mas ainda não havia uma dependência efetiva com o álcool.

"Como era músico, a gente ia para muitas festas e o álcool vinha naturalmente. Mas bebia socialmente", disse.

Um divisor de águas na vida de Bonfim foi a depressão de sua ex-mulher. A doença da companheira refletiu no relacionamento e também nele. O desgaste da relação fez com que o músico passasse a beber mais e mais. Nesta época, ele trabalhava em um hotel. Quase não dormia e o álcool era uma "companhia" freqüente. Nesse quadro, o casamento não se sustentou. Separado e bebendo cada vez mais, Bonfim resolveu deixar a capital. Passou uma temporada em São Carlos e depois voltou para Garça.

Chegou à cidade por volta de 2009, ainda tendo alguns recursos que haviam sido acumulados ao longo dos vários anos de trabalhos noturnos em São Paulo. Pouco a pouco, esse dinheiro foi desaparecendo, sendo deixado nas caixas registradoras dos bares. "Passei a beber cada vez mais e comecei até a vender coisas para beber. Tudo ia ficando nos bares", sustentou.

Sem maiores perspectivas, Bonfim conseguiu ser encaixado no trabalho rural e passou a atuar em lavouras de café. Mesmo assim, praticamente todo o dinheiro que recebia continuava a ficar nos bares. Foi nessa época, que alguns familiares e amigos o orientaram a buscar ajuda e, talvez, se internar para tentar se livrar do vício. Foi quando passou pelo Caps-AD.

"Quando fui para o Caps pessoas muito boas me orientaram. Era para eu ser internado, o objetivo era esse, mas lá o médico, a enfermeira me animaram, disseram que eu poderia me recuperar ali. E, então, iniciei esse acompanhamento", explicou.

O início, evidentemente, não foi fácil. Algumas recaídas foram observadas. E, pouco a pouco, uma mudança foi sendo sentida por Bonfim. "É claro que no começo eu não conseguia ter a confiança de que estava melhorando. Mas fui vendo as pessoas dali, o carinho que a gente vai criando pelos funcionários do Caps e isso foi motivando", sustentou o músico, que também teve uma importante colaboração: o apoio da família, que constantemente o acompanhava e dava suporte para que ele não tivesse novas recaídas.

Bonfim fez o tratamento sugerido de forma rigorosa, tomando os medicamentos, comparecendo ao Centro de Atenção nos dias exatos e, ainda, buscou outras ações de suporte para superar o vício, como a participação na Pastoral da Sobriedade. Desse modo, neste dezembro, Bonfim tem um motivo para comemorar, já que completa dois anos sem o álcool e também uma mudança na vida.

"Hoje continuo a trabalhar na área rural, tanto aqui como em São Carlos. A condição financeira melhorou, a família começou a confiar novamente em mim. Acho que se pudesse dar um conselho a quem está na bebida é ver o que ocorreu comigo. Ter um espelho daquilo que sofri. No começo eu bebia pela alegria, depois pela tristeza e a bebida não me levou a nada. Perdi tudo, mas pude me recuperar com esse trabalho, com o apoio do Caps, dos profissionais de lá e também da minha família", complementou Bonfim, que já faz planos de passar o Natal com a família, com total sobriedade.

Segundo Thaís Peres, enfermeira do Centro de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas, a trajetória de José Bonfim é um exemplo de que o alcoolismo é uma doença que tem tratamento. Para isso, é necessário que o paciente tenha consciência de seu problema e se sinta estimulado a procurar ajuda. O Caps tem toda a estrutura para oferecer esse apoio. "O Caps-AD tem uma equipe multiprofissional preparada para atender quem quer se livrar do vício, tanto do álcool como das drogas, formada por médico psiquiatra, psicólogo, terapeuta ocupacional, enfermeira psiquiatra, assistente social, entre outros", disse.

No Caps-AD de Garça existem três modalidades de atendimento: o intensivo, no qual o paciente passa o período integral no Centro; semi-intensivo, com o atendimento com psiquiatra ou psicólogo ocorrendo alguns dias da semana; e não-intensivo, com o paciente precisando ir até o Centro apenas algumas vezes por mês para o acompanhamento.

Além de ter um atendimento ambulatorial e acompanhamento especializado, no Caps-AD o paciente também participa de atividades especiais, como oficinas de artesanato, trabalhos em horta, entre outros.

O Caps-AD de Garça funciona de segunda a sexta-feira, das 07 às 17 horas, à rua Baden Powell, s/n, atrás do Hospital São Lucas. O telefone é 3406 5280. Quem quiser ter o atendimento do Centro basta procurar a unidade local. Também é possível efetuar o encaminhamento desse interessado através das Unidades Básicas de Saúde.

 

 

Legenda da foto

 

Bonfim_01 — José Bonfim, dois anos sóbrio, juntamente com a enfermeira Thaís Peres, do Caps-AD.

 


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