Fábio Dias
08/01/2014
Garça 

Médico diz que lavrador foi salvo por milímetros

O lavrador de 40 anos que passou por cirurgia no Hospital de Base (HB)

  O lavrador de 40 anos que passou por cirurgia no Hospital de Base (HB) de Bauru para a retirada de uma faca cravada em sua cabeça deixou ontem à tarde a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e já se recupera no quarto. Segundo o médico responsável pelo procedimento de emergência, alguns fatores contribuíram para que o paciente sobrevivesse ao golpe e não tivesse funções primárias como fala e coordenação motora afetadas.

Conforme divulgado pelo JC (leia mais abaixo), o homem feriu-se com a faca no domingo, no imóvel onde mora, na rua Miguel Narciso Luciano, Parque Pampulha, em Agudos (13 quilômetros de Bauru). O neurocirurgião que o operou, Lauro de Franco Seda Junior, revela que a cirurgia foi bastante delicada e durou cerca de quatro horas, mas diz que a recuperação está sendo rápida e satisfatória. Na opinião dele, alguns fatores foram fundamentais para que a vítima sobrevivesse.

O médico diz que a faca, com aproximadamente 15 centímetros de lâmina, atingiu a região temporal esquerda do lavrador e atravessou seu crânio numa trajetória ascendente (de baixo para cima). “A face cortante da faca estava virada para cima. Provavelmente, por essa razão que ele deva ter sobrevivido. Se tivesse apontado a faca para baixo e a lâmina estivesse voltada para baixo, provavelmente a sorte dele teria sido outra”.

A largura da lâmina, de acordo com o neurocirurgião, também ajudou a salvar a vida do paciente. “Olhando a lâmina de frente, ela era fina, tipo um punhal. Se fosse mais grossa, o dano causado teria sido maior”, afirma. “Ela tem grande poder de penetração, mas tem uma área de secção transversal pequena”. Ele ressalta que a faca não afetou regiões do cérebro que comandam funções primárias, como fala e coordenação motora.

Segundo o médico, a área atingida é responsável pelas funções secundárias, chamadas de integração ou associativas, e o lavrador poderá apresentar distúrbios de memória e de formulação de linguagem. “Nos primeiros exames e nas primeiras análises que a gente fez dele na recuperação, parece que ele está com distúrbio de linguagem. Ele está com uma certa dificuldade de se expressar e de nomear objetos, o que a gente chama de afasia nominativa”, explica.

“Ele fala, ele se comunica, você consegue conversar com ele, ele entende o que você fala, executa o que você pede, mas tem alguma dificuldade de se expressar. Ele responde, conversa, mas está com o discurso prejudicado”. O neurocirurgião esclarece que todas as lesões no cérebro deixam sequelas. “Não existe lesão cerebral que não deixe sequelas. O que existe são aquelas sequelas que são mais visíveis, mais declaradas, mais notáveis do que em outras regiões”, declara.

Situação incomum

O médico Lauro de Franco Seda Junior definiu a situação do lavrador como “incomum”, mas revelou que já atendeu casos semelhantes quando fazia residência médica e plantões na Capital. Numa das situações, ele operou funcionário de serraria atingido frontalmente na cabeça por fragmento de serra circular.

“Depois da residência, no exercício da profissão, nos plantões em São Paulo, operei também – tudo resultante de violência urbana – as coisas mais variadas, como lesão penetrante por arma branca, faca, chave de fenda, pedaço de barra de ferro, vergalhão”, conta.

“A dele impressionava demais porque ele estava acordado, conversando, estava com a face de sofrimento, de dor, estava realmente meio confuso, um pouco desorientado, evidentemente por causa da situação, da lesão. Mas ele teve um final feliz”.

Relembre o caso

Segundo a polícia, o lavrador saiu de sua residência no domingo, por volta das 20h30, com uma faca cravada na cabeça e pediu ajuda a vizinhos, que o levaram de carro até o Pronto-Socorro (PS) de Agudos.

Questionado pelas testemunhas, disse que não se recordava do que havia acontecido. A Polícia Militar (PM) foi chamada pela equipe de plantão do hospital para registrar a ocorrência. Aos policiais, ele alegou que havia desferido facada contra a própria cabeça após discutir com um amigo em sua casa.

Em razão da gravidade do ferimento, o homem foi transferido para o HB em Bauru. Segundo a assessoria de imprensa da Fundação para o Desenvolvimento Médico e Hospitalar (Famesp), ele deu entrada no hospital às 21h22 e foi submetido a uma neurocirurgia de emergência para a retirada da faca.

O lavrador permaneceu internado na UTI, entubado e sedado, até o início da tarde de ontem, quando foi transferido para o quarto. Até o fechamento desta edição, o estado de saúde dele era estável. A Polícia Civil investiga o caso e não descarta a possibilidade de o lavrador ter sido agredido por outra pessoa.

 

JCNET


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