Username: Letterio doesn't exist or feufield is not set
10/02/2014
Garça 

Caminhada providencial

           Eram dezenove horas no horário de verão do dia 05.01.2014, quando saí de casa para minha caminhada diária, dessa vez com a máquina fotográfica a tiracolo. Que delícia, com aquele tempo nublado e fresco, dar uma volta pelo Lago de Garça, despreocupado de tudo, disposto, porém, a surpreender alguma cena inusitada para registrar.

            Minha primeira parada foi perto dos pedalinhos, o assim denominado Recanto dos Cisnes, de onde se tem uma visão perfeita de nosso Lago, do Bosque das Cerejeiras, e do Jardim Oriental defronte, tudo se refletindo no espelho d´água, cena deslumbrante para mim. Tirei a máquina, mirei o conjunto, sempre na tentativa de flagrar a graça da Caixa d´ Água do SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto), de cor azul claro, lá no alto.

            E continuei o meu caminho por mais alguns passos, até chegar ao Cantinho do Poeta, onde uma placa de metal nos mostra o soneto imortal “Quando as Cerejeiras do Lago florescem”, de Cesarino Sêga, placa cercada por símbolos da cultura japonesa. Para sempre, através dela, Cesarino homenageia o “Cultor das Cerejeiras”, o velho Nelson Koche Ichisato, cada vez mais invisível. E Nelson, por ocasião do centenário de nascimento do poeta Cesarino (1906-2006), homenageou o poeta com a graça do Cantinho do Poeta. Ali a natureza, a arte, e a amizade comungam para sempre.

            Antes, porém, de registrar a cena completa, descobri e saudei o meu antigo aluno de Unimar Wesley Martins, homem cheio de música, filho de filho, neto portanto, do já falecido Capitão Isaías Rodrigues Martins, cronista ilustre de jornais de Garça nas décadas de 60 e 70 do século XX. Acertei com o Wesley os primeiros passos da possível homenagem da Associação de Poetas e Escritores de Garça (APEG) ao avô Isaías Martins, escritor. Fiquei muito contente de iniciar o contato, e propus-me acertar com o pai dele essa parte do Encontro Poético de outubro de 2014. Depois disso enfoquei a cena na máquina e fotografei o Cantinho do Poeta na frente, e no fundo o Lago, e os pedalinhos, e as Cerejeiras, e o céu nublado do momento.

            E pus-me de novo a andar, e a mirar cenas por entre os galhos verdes das árvores, de onde via, por exemplo, lá no alto do espigão, o prédio vistoso e sobranceiro do Instituto Educacional Dona Maria Leonor, edifício antigo, sempre de atalaia para o bem de nossas crianças, cujo projeto educacional frequentam. Tentativa minha de apanhar a imagem na lente da máquina, pois é uma cena linda! Atrás de mim, acima das lanchonetes do Lago, corria a segunda Mata com suas árvores altíssimas e seu ar puro a encher nossos pulmões.

            Estava de novo a caminhar, olhando o céu escurecer de nuvens, quando me chama e vem ao meu encontro a poetisa e escritora garcense Mileidi Pavarini. Que alegria rever, logo no início do ano, a sempre delicada Mileidi! Saudamo-nos e falou-me de seu livro, na verdade, do romance já concluído. E confidenciou-me que a obra está sem título. Confessei-lhe que no meu processo de criação se dá exatamente o contrário: primeiro me vem o título e depois o texto. Como se o título fosse para mim um pórtico magnífico de onde avisto a cena do texto a ser escrito. Mas cada escritor é diferente um do outro. Combinamos de ela me levar o escrito em CD para eu ler atentamente o texto de que seria talvez o primeiro leitor. Tenho certeza de que o título, como joia rara, está perdido em algum ponto do texto. E incentivo assim a criação literária de pessoas sensíveis, de cuja fantasia ou de cuja pena pode sair de repente uma obra admirável.

            E, no aguardo do CD da delicada Mileidi, continuei a curta caminhada. Escurecera mais. Alguns relâmpagos riscavam já o céu encoberto. Cortei o retorno pelo Bosque das Cerejeiras, no sopé da Base da Polícia Militar. Defronte da casa do ex-Prefeito Assis Bosquê começou a respingar. Estuguei o passo. Diante da Academia a chuva aumentou e me pegou. Coloquei a máquina dentro da camisa. E pus-me a correr dentro do que conseguia este senhor de 73 anos. E cheguei à minha casa muito feliz, embora ensopado de chuva.

            A caminhada foi providencial, e me deu, como narrei, muita alegria. Deus espalhou muita graça em meu caminho naquele fim de tarde de horário de verão, em volta ao Lago de Garça!

 

LETTERIO SANTORO – 05.01.2014

Membro da APEG (Associação de Poetas e Escritores de Garça); autor, entre outros, do LIVRO DE HAICAIS, à disposição nas Bibliotecas Municipal e do Centro de Referência da Educação.


Comentários

Nota Importante: O Portal Garça Online abre espaço para comentários em suas matérias, mas estes comentários são de inteira responsabilidade de quem os emite, e não expressam sob nenhuma circunstância a posição/opinião oficial do Portal ou qualquer de seus responsáveis em relação aos respectivos temas abordados.