Username: Letterio doesn't exist or feufield is not set
17/02/2014
Garça 

Palavras de amigo (e de mestre)

       Meu amigo JOSÉ MOREIRA DE SOUZA, mineiro de BH, no comecinho de fevereiro de 2014, pelo facebook, postou um comentário ao meu artigo Recordações da Casa Antiga, publicado na primeira semana de fevereiro tanto na internet, quanto no jornal Comarca de Garça. Em suas palavras, porém, ele resumiu leituras de matérias publicadas no final do ano passado, além da série de crônicas comemorativas dos vinte e cinco anos de nossa mudança para Garça, onde tratei da vida familiar, da vida política, da vida literária, e da vida religiosa.

            Para quem ainda o não conhece apresento o meu amigo JOSÉ MOREIRA DE SOUZA: professor universitário aposentado da UFMG onde exerceu, entre outros, o cargo de sociólogo do Centro de Estudos Mineiros e posteriormente pelo Conselho de Extensão. Publicou diversos livros como: Cidade: Momentos e Processos (Serro e Diamantina na formação do Norte Mineiro no século XIX), e o mais recente A Sombra do Andarilho (O folclore e suas charadas), dos quais me presenteou com um exemplar respectivamente em 1995 e em 2013. Mas dispõe ainda de obras não publicadas, por ex., Comunicação e Mudança: a decadência do lazer tradicional, onde defende a tese da “mulatização artística” de Curt Lange que assustou a academia.

            Sabedor de minha simpatia e admiração pela poetisa mineira Henriqueta Lisboa, meu amigo JOSÉ MOREIRA DE SOUZA, presenteou-me em 2001 com um preciosíssimo exemplar de Henriqueta Lisboa (Poesia Traduzida), da Editora UFMG, editado por ocasião dos 100 anos de Henriqueta Lisboa com quem ele conviveu na Universidade. Foi-me assim dada a oportunidade de conhecer um aspecto surpreendente do trabalho profícuo da escritora mineira. Apaixonado por folclore, participa também da Comissão Mineira de Folclore, de cujos informativos alimenta a alguns amigos.

            Pois bem, JOSÉ MOREIRA DE SOUZA é meu particular amigo, talvez o amigo mais antigo que Deus pôs em minha vida, desde os idos de nossa infância no Seminário Menor de Aparecida do Norte (1953-1954), depois durante a adolescência nos silêncios verdes do Seminário do Ibaté em São Roque (1955-1959) e ainda juntos na juventude, nos tempos de Filosofia, de novo no Casarão de Aparecida (1960-1962). Tomamos rumos diversos, ele por Minas Gerais com carreira universitária, e eu estudando e trabalhando por São Paulo, até nos revermos com alegria novamente no I Encontro dos alunos do Ibaté em 1993.

            O JOSÉ MOREIRA DE SOUZA é o irmão que Deus me deu, irmão da mesma idade, irmão mais ousado na inteligência, com quem tenho o prazer de me comunicar, nos últimos anos, pela internet. Sempre admirei esse amigo desde os tempos de infância em Aparecida, quando participávamos do Círculo Literário Jesus Menino, onde se destacava ele na tribuna com histórias lá das Minas Gerais. Meu amigo sempre cultivou o dom da palavra que Deus lhe deu. Cultivou esse dom também nas sessões e nos Concursos das Cadeiras do Grêmio Literário Pio XII, nas colaborações do jornalzinho Ecos da Tribuna, nas apresentações de Teatro nos anos do Ibaté. Comungávamos juntos a paixão pelas Belas Letras. Mas ele lia muito mais do que eu, especialmente os livros de aventuras de Karl May, enquanto eu ficava nos exercícios poéticos e nos registros do Diário.

            Mas o bom Deus concedeu ao meu amigo JOSÉ MOREIRA DE SOUZA uma inteligência que sempre via mais longe do que eu via. Ele consegue realizar nas suas leituras de livros e das circunstâncias do mundo (na Política, na Economia, na Cultura) o sentido original e mais profundo do “intelligere vera”, que é ler dentro (intus leggere) das coisas, dos textos, das circunstâncias - a verdade. Neste sentido, ele é o meu oposto: eu sou um homem ingênuo, enquanto meu amigo e irmão é um homem crítico. Eu me considero um observador curioso da realidade de que participo, ele é o lince cujos olhos abrangem toda a realidade. Ele enxerga mais longe. Ele é também uma águia.

            Ao analisar com esses olhos de lince e de águia as minhas crônicas semanais dos últimos tempos, o professor e mestre JOSÉ MOREIRA DE SOUZA vai além do que eu próprio escrevo. Segundo ele, teço “comentários sobre acontecimentos importantes: saúde e atendimento às famílias nas creches.” Aliás, na opinião do companheiro, “a questão da audiência pública (onde foi discutido o horário da creche em Garça) que você coloca deve ser parte de uma cartilha para os movimentos sociais.” Excelso amigo, uma crônica minha ajudando as discussões de grupos de movimentos sociais?! Que glória!

            Tanto enxerga mais longe o JOSÉ MOREIRA DE SOUZA que a constatação de “casa vazia” na Câmara Municipal de Garça ao longo dos últimos vinte e cinco anos, para mim é apenas uma constatação, para ele é “sintoma de alguma coisa”. Mas a frase que mais me impressionou no comentário do amigo e que fiz questão de sublinhar na cópia manuscrita de sua mensagem, para guardar como lembrança em meu Diário, foi a seguinte: “Ler seus artigos dá um enorme otimismo: há que sonhar com um mundo melhor.” Poderia eu receber de algum leitor um retorno melhor do que este? Em geral não há eco de meus escritos nos leitores, se é que alguém me lê! Gostei tanto da frase do amigo que pretendo colocá-la como epígrafe do futuro livro Crônica do Cidadão (2014).

            Em continuação, meu amigo JOSÉ MOREIRA DE SOUZA resolveu, como bom sociólogo, ir fundo na questão da política tratada por mim numa das quatro crônicas sobre meus 25 anos em Garça. Foi buscar nos tempos de seminário, principalmente na juventude dos anos de Aparecida, a nossa iniciação política, com as visitas de Franco Montoro, Dom Jorge Marcos, Herbert Levy, Roberto Cardoso Alves, Frei Josafá em visita ao seminário. Que memória tem esse amigo! Lembrou ainda do lançamento do jornal “Brasil Urgente”, que circulou de 1962 a 1964, quando foi fechado pelo “golpe de 1º de abril de 1964.”

            Para mim e para o JOSÉ MOREIRA DE SOUZA o Partido dos Trabalhadores (PT) foi criado nos anos 80, mas para ele (veja o leitor o olho de lince e de águia de meu amigo) o PT foi gestado nos anos 60, quando Dom Jorge, bispo de Santo André, apoiou a luta operária...de que é exemplo a greve da Aymoré.” É o pesquisador sério que vai à raiz das questões sociais. E buscou lá no fundo do baú, inspirado por minhas crônicas, a figura curiosa do Pe. Moschini que em palestra, nos idos de 1960 a 1962, ao comemorar o aniversário da fundamental encíclica Rerum Novarum, de Leão XIII, falou para nós, então jovens estudantes de Filosofia, sobre a situação da classe operária inglesa, quando defendeu que “a doutrina social da Igreja condena o socialismo no adjetivo e o capitalismo no substantivo”. Quem puder compreender, compreenda.

            E, por último, segundo o meu amigo JOSÉ MOREIRA DE SOUZA, “esse foi nosso primeiro estágio na compreensão da ação política e das contradições entre doutrina e ação”. E suas palavras de comentário me recordaram contatos mantidos por mim nas férias da Filosofia com trabalhadores da Juventude Operária Católica na Capital. Admirável amigo, com suas palavras ele acabou por realizar o que eu insistentemente pedia na crônica Recordações da Casa Antiga: que falássemos da formação por nós recebida nos anos de seminário. E com que gabarito o fez! Sinto-me honrado de ter recebido um comentário dele.

 

LETTERIO SANTORO – 09.02.2014

Membro da APEG (Associação de Poetas e Escritores de Garça); autor, entre outros, do livro de poemas AMOR PLURAL, à disposição nas Bibliotecas Municipal e do Centro de Referência da Educação.

 

 


Comentários

Nota Importante: O Portal Garça Online abre espaço para comentários em suas matérias, mas estes comentários são de inteira responsabilidade de quem os emite, e não expressam sob nenhuma circunstância a posição/opinião oficial do Portal ou qualquer de seus responsáveis em relação aos respectivos temas abordados.