Lucas Dias
25/01/2019
Garça 

Traumas na infância e a construção da personalidade

O ambiente, amor dos pais, convívio social, proteção, e também atenção são fatores decisivos que podem interferir e impactar diretamente a vida adulta da criança.

A formação de identidade é um complexo processo que ocorre ao longo da vida. A capacidade de integrar harmoniosamente emoção e razão, a consciência básica do estado emocional, e até mesmo a construção da identidade e personalidade, incluindo o sentimento de ser suficientemente bom, são fatores propícios de serem afetados pelos traumas de infância. Em um ambiente onde a sobrevivência básica prevalece sobre o desenvolvimento equilibrado do “eu”, crianças podem se tornar adultos com diversos tipos de problemas psicológicos e sociais.

Um trauma durante a tenra idade pode alterar o desenvolvimento do cérebro. De fato, há pesquisas que comprovam que um ambiente onde o medo e a negligência prevalece ante o amor e carinho, acarreta em diferentes adaptações dos circuitos cerebrais. E o pior é que, quanto mais cedo a criança passa por essa angústia, mais os efeitos dela serão profundos e duradouros.

 

A autora e psicóloga Helô Delgado conhece muito bem como os traumas podem complicar a vida das pessoas. Ela atendeu por diversos anos pacientes clínicos que precisavam de acompanhamento e percebeu, em várias ocasiões, como vivências marcantes vão deixando cicatrizes no psicológico que nem sempre são fáceis de lidar.

Inspirada por sua bagagem profissional, alguns anos após se afastar do atendimento clínico, Helô escreveu a obra “Dilacerada”, publicada pela Editora Coerência. Nesse romance fictício, escrito como sessões de terapia, a autora narra a história, passado e traumas de Vivian, uma jovem que, durante a infância, foi duramente repreendida pela mãe, vivendo em uma alienação parental junto da irmã, e cuidando de todas as tarefas domésticas, não tendo tempo para fazer coisas básicas da infância como brincar e ter amigos.

Em uma passagem da obra, a autora exemplifica a pressão que a jovem sentia, e o quão doentio era a convivência com a figura materna: “Eu não entendia por que éramos tratadas dessa forma. Eu fazia o possível para não irritar minha mãe e para que Val não se sentisse angustiada, todavia, às vezes alguma coisa ficava fora do lugar...ou eu me distraía com algo banal e acabava sofrendo as consequências pelas minhas falhas. Karina não aceitava falhas. A perfeição era sua melhor amiga. Ela não considerava Val perfeita, então sobrava para mim. Nesse cenário doentio, eu que seguia as regras.”


Por: Helô Delgado nasceu no sul de Minas Gerais, é casada e mãe de dois filhos. Formada em Psicologia, pós-graduada em Psicanálise e Tradução, é apaixonada por literatura desde criança. Demorou muito para acreditar que poderia escrever e, agora que começou, não quer parar. Dilacerada é seu primeiro romance.


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